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Foto: Divulgação.

Foi assim mesmo, com poucas palavras que a Lei 3.353 foi sancionada. Depois de mais de três séculos de escravidão a Lei Áurea, assinada pela Princesa Isabel em 13 de maio de 1888, de forma sucinta e direta libertava 700.000 pessoas escravizadas. Naquele tempo a população do Império do Brasil girava em torno de 15.000.000 de habitantes.

Os ex-senhores de escravizados não receberiam as indenizações que, pasmem, muitos acreditavam ter direito.

Comemorações se seguiram por dias. Nas palavras do grande abolicionista Joaquim Nabuco, sobre o sentimento que tomava conta do Rio de Janeiro: “Está feita a abolição! […] Há vinte dias vive esta cidade um delírio. […] a monarquia está mais popular do que nunca.”

Em Curitiba o jornal governista Sete de Março em 16 de maio de 1888 congratulava-se com a abolição, referia-se a mesma com as seguintes promessas para o futuro da nação: igualdade entre as raças, distribuir justiça, assentar sobre bases inabaláveis a paz e a concordia dos brasileiros, entramos no convívio da civilização.

Contudo, nem todos compartilhavam de tamanho entusiasmo. Em 31 de julho de 1888 há poucos quilômetros do centro da Freguesia do Iguassú, em Curitiba, o deputado provincial Domingos Cunha, em discurso na Assembleia Provincial do Paraná, assim se referiu ao fim da escravidão no Brasil:

“[…] vou tratar do assunto mais importante da atualidade[…] Era de supor, […] que estando tudo calmo, como estava, não haveria necessidade da denominada lei áurea de 13 de maio. Esta lei áurea, como a chamam, sobre o elemento servil, não devia ser votada tão precipitadamente, devia ser feita com toda calma, com todo critério possível: não devia ser feita no meio de manifestações anárquicas, como o fizeram. Nós vamos […] para um estado calamitoso; por hora tudo tem sido festa e flores, mas as consequências, Deus permita que eu erre, hão de amargar para esse país. Estes homens, os ex-senhores, eram os que mais contribuíam para as despesas do Estado. […]. Aqueles homens que, com o trabalho do escravo, aumentaram a nossa exportação, ficando abandonados em suas fazendas, sem braços para o trabalho, como poderão ir buscar o dinheiro no estrangeiro para as despesas do Estado?”

Aqui, na Freguesia do Iguassú, antigos senhores de escravizados compartilhavam das amarguras do deputado escravagista. No premiado livro Homens da Terra, o escritor Romão Wachowicz procura reconstruir o pensamento de um fazendeiro ex-senhor de escravizados em Araucária, que ele chamou de Francisco Lúcio Mantinho, nas palavras do professor:

“[…] E continuou em pensamento: as mulheres do governo do Imperador D. Pedro II intrometeram-se em seu governo e ele permitiu. Expulsaram os escravos de suas terras e ele permitiu. E agora?…. As fazendas tornaram-se desertas. As casas caíram. De que se há de viver? […]. É verdade que os negros trabalham, mas exigem somas polpudas. Tudo regride, tudo está ficando em trapos. Nos campos tudo está estagnado… (WACHOWICZ, 1997, p.104).”

A Monarquia que já estava em crise agora tinha mais um grupo de inimigos, os Republicanos de 13 de maio, que só passaram a defender a república como uma espécie de vingança pelas suas perdas com o fim da escravidão.

Movimento liderado pelos militares, que estavam muito insatisfeitos com a Monarquia, apenas um ano, seis meses e 2 dias depois da abolição da escravidão foi Proclamada a República no Brasil, era 15 de novembro de 1889. Como bem observou Romão Wachowicz:

“O Imperador […] teve que deixar o país. Após [quase] cinquenta anos de trabalho, levou o baú e a maleta para o exílio. De senhor estimado, passou a banido e foi escoltado até o alto-mar.”

O Brasil passou a ter o seu primeiro presidente, o Marechal Deodoro da Fonseca, um devoto monarquista movido por preciosismos nem um pouco republicanos.

A jovem República dos Estados Unidos do Brazil deixou de ser dividida em províncias e passou a ser dividida em estados, adotando a forma federalista de dividir o poder estatal, onde o governo central divide responsabilidades e competências com os Estados-membros, como o exemplo do seu grande irmão do norte, os Estados Unidos da América.

O Paraná passou a ser governado por militares nomeados pelo presidente, primeiro Francisco José Cardoso Júnior, entre 17 de novembro e 4 de dezembro de 1889, depois José Marques Guimarães, entre 3/4 de dezembro e 18 de fevereiro de 1890, governador na época da emancipação de Araucária.

Foi tudo muito rápido, em 11 de fevereiro de 1890, menos de três meses depois da Proclamação da República, a Freguesia foi elevada à categoria de Vila e Iguassú passou a se chamar Araucária. Aqui passamos a ter nosso primeiro prefeito nomeado, que não por coincidência também era militar, o Major Sezino de Souza. Veterano da Guerra do Paraguai, Sézino contou com o apoio fundamental de líderes estaduais, como o médico lapeano Victor Ferreira do Amaral, que acabou escolhendo o nome da nossa cidade.

A emancipação política de Araucária deve muito aos resultados práticos do movimento abolicionista, do golpe de 15 de novembro e da articulação política dos seus líderes frente ao governo estadual recém-instalado. Foi tudo muito rápido, entre o 13 de maio de 1888 e o 11 de fevereiro de 1890 passaram-se apenas 639 dias.

Edição n.º 1402

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