Araucária PR, , 25°C

Paradoxo: mercado de trabalho enfrenta sobra de vagas e falta de mão de obra
Foto: Divulgação

O mercado de trabalho no Brasil vive um momento contraditório: ao mesmo tempo que a taxa de desemprego atinge, segundo o IBGE, o menor patamar da série histórica, com apenas 6,1% no trimestre encerrado em novembro de 2024, diversas profissões estão com vagas disponíveis por falta de mão de obra.

Segundo a Secretaria Municipal do Trabalho e Emprego, de janeiro de 2025 até março (dia 12), 1.004 vagas foram disponibilizadas, com um total de 2.198 candidatos, o que representa cerca de dois candidatos por vaga apenas. Entre os setores mais procurados estão o alimentício, metal mecânico e obras.

“Essa dificuldade de encontrar trabalhadores para preencher determinadas vagas se deve a fatores como falta de qualificação, salários não atrativos, horário de trabalho (escala 6X1) e aspectos sociais. O fato é que a Agência do Trabalhador tem trabalhado na intermediação de vagas de empregos, captação de vagas, qualificação da mão de obra e orientações aos candidatos, buscando preencher esta lacuna”, afirma a SMTE.

SOBRAM VAGAS

O setor supermercadista é um dos que vem sendo mais afetados por esta escassez de mão de obra. Para a coordenadora do Comitê de Recursos Humanos da Associação Paranaense de Supermercados – APRAS, Charmoniks Heuer, vivemos nesse momento o pleno emprego, ou seja, tem muitas oportunidades para poucas pessoas no mercado de trabalho. “As empresas estão fazendo contratações de colaboradores para qualificar ‘dentro de casa’, porque não estão achando pessoas qualificadas no mercado de trabalho. Também verificamos que depois da pandemia as pessoas começaram a empreender mais. Isso porque no período pandêmico, muitos trabalhadores foram desligados e algumas empresas fecharam, então as pessoas começaram a procurar outras formas de renda, muitos passaram a empreender, viram que deu certo e poucos voltaram para o mercado de trabalho”, explica Charmoniks.

A coordenadora da APRAS aponta como outra consequên­cia dessa escassez de mão de obra o desinteresse pelo trabalho formal – CLT, esquecendo das garantias que o mesmo oferece. “As pessoas estão preferindo trabalhar por conta e isso vem afetando não apenas o setor supermercadista, mas setores como o metalúrgico, indústria, varejo em geral. O fenômeno também não ocorre apenas no Paraná, mas em todo o Brasil. Acreditamos que em um futuro próximo, teremos que conscientizar mais essas pessoas sobre a importância do trabalho formal – CLT”, declara.

CONTRATAÇÕES EM ALTA

No Grupo Risotolândia, um dos principais players brasileiros no segmento de refeições coletivas, que passa por um amplo processo de contratações, há motivos especiais para essa oferta tão expressiva de vagas. Primeiramente, a empresa vivencia um movimento natural de aumento na demanda por profissionais, reflexo do início do ano letivo e da retomada das atividades escolares. “Esse período exige reforço nas nossas equipes operacionais, para garantir a excelência do atendimento em todas as unidades”, afirma Mariana Godoi, gerente de Desenvolvimento Humano do Grupo Risotolândia.

Além disso, a empresa está em pleno processo de expansão dos negócios, construindo neste ano a maior cozinha industrial do Brasil, um marco importante para o setor e que reforça seu posicionamento de crescimento sustentável. “Também temos um plano de expansão para os próximos anos, o que naturalmente exige a constante movimentação em nosso quadro de contratações”, ilustra Mariana.

A gerente reforça ainda que contratar faz parte do modelo de negócio do Grupo Risotolândia. “É justamente esse dinamismo que nos permite continuar crescendo, inovando e entregando um serviço de qualidade com responsabilidade social e geração de empregos”, aponta.

Carteira assinada perde o Bolsa Família?

Outro fator que pode estar influenciando muitos trabalhadores a não retornarem para o regime CLT é a possibilidade de perder os benefícios do Governo Federal, principalmente o Bolsa Família. O programa é voltado às famílias em situação de pobreza ou extrema pobreza e que tenham em sua composição gestantes, nutrizes (mães que amamentam), crianças ou adolescentes entre 0 e 17 anos.

De acordo com as normas do programa, é possível continuar recebendo o Bolsa Família mesmo com emprego de carteira assinada, desde que o valor recebido somado a renda familiar, não ultrapasse a meio salário mínimo per capita (você pega a renda total da família e divide pelo número de integrantes para descobrir a renda per capita). Neste caso, o beneficiário poderá continuar recebendo o benefício por dois anos. Caso o valor ultrapasse a meio salário mínimo per capita, a família não terá mais direito ao benefício. Essa proteção vale se a família fizer a atualização das informações no Cadastro Único para Programas Sociais do Governo Federal de forma voluntária. 

Edição n.º 1457.

Leia outras notícias