Hoje eu senti muita raiva! E, ao invés de tentar sufocá-la com meditações, anestesiá-la com afirmações positivas ou amenizá-la com preces prontas, eu decidi ouvi-la.
Sim, a raiva falou comigo – e me contou segredos que só quem a sente de verdade consegue escutar. Ser uma pessoa espiritualizada não significa ser passiva ou inerte às dores do mundo. Implica, sim, em aprender a canalizar adequadamente a energia das emoções fortes, como a raiva, adotando um posicionamento consciente diante daquilo que nos desperta.
Na maioria das tradições espirituais, somos ensinados a buscar a paz, o amor e a compreensão. Mas… e quando a alma está exausta de compreender? E quando o coração se irrita com tanta injustiça, opressão ou silenciamento? E quando a “paz fictícia” vem com um custo altíssimo de auto-sacrifício, desvalorização pessoal ou desesperança? Não se cale mais. Reaja. Acorde. Não confunda paz com conformismo ou alienação!
O psiquiatra americano Dr. David R. Hawkins dedicou sua vida ao estudo dos estados espirituais avançados e à investigação da consciência. Ele criou uma tabela conhecida como “Escala de Hawkins”, que classifica a vibração dos estados emocionais humanos em Hertz – a mesma unidade que mede ondas de rádio.
Segundo essa escala, quanto mais elevada a vibração, mais próximos estamos de sentimentos como amor, alegria e paz genuína (não a paz que sufoca). Esses estados atingem níveis energéticos entre 700 e 1000 hertz.
E o que esse número tem a ver com a vida prática? Quanto maior sua vibração, mais poder você tem de manifestar desejos, mover circunstâncias e atrair sincronicidades.
Na mesma escala, a vergonha vibra em apenas 20 hertz – é uma das emoções mais paralisantes. Abaixo dela, tudo estagna. Mas a raiva… a raiva vibra em 150 hertz. Apesar de ser considerada densa, a raiva vibra mais alto que o medo, a tristeza ou a apatia. Ela impulsiona. Ela coloca em movimento. Ela nos arranca da zona de conforto. É um combustível para reagir diante daquilo que nos fere ou limita.
E, por isso, ela é necessária. A raiva nos ajuda a romper prisões emocionais, a guerrear por nossos próprios interesses, a frustrar expectativas externas em nome da nossa verdade interna.
A raiva é uma emoção quente: queima o que é falso, inclusive expectativas ilusórias. Ela destrói estruturas antigas que já não sustentam a alma. É irmã da coragem, filha do instinto de sobrevivência. Mal canalizada, pode ferir. Reprimida, adoece. Ignorada, se torna sombra.
Mas quando acolhida com consciência, a raiva aponta o caminho da cura e da transformação. Há quem diga que a raiva nos afasta da luz.
Eu prefiro crer que a luz também se manifesta como fogo – e, às vezes, queimar é preciso para renascer. A raiva sagrada nos tira da paralisia. Nos empurra para o “basta”. Nos levanta do chão depois de rastejarmos por tempo demais.
Da próxima vez que a raiva bater à sua porta, não a enxote como um inimigo. Sente-se com ela. Pergunte o que ela quer proteger. E depois, transforme esse calor em ação consciente, em direção, em liberação.
Detalhe: resolvi usar toda a minha raiva para exteriorizar, com firmeza, tudo o que precisava dizer a quem deveria ouvir. E como ainda era pouco, liguei. E como o telefone não bastou, marquei uma conversa pessoal. Fui brigar mais um pouco. E, sim, até a raiva pode ser uma oração – quando usada para libertar a alma. Se gostou do conteúdo, me siga nas redes sociais: @tarodafortuna no Instagram e TikTok.
Edição n.º 1460.