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Tudo estava indo bem na vida do Cidadão, nada muito diferente daquilo que sonhara quando criança. A satisfação com a dignidade em dia, quase se confundia com o orgulho de um homem bem-sucedido. E quem disse que não era? Afinal, existe sucesso maior do que prover as necessidades básicas da família, ostentar os carnês e boletos pagos em dia, garantindo assim a casa “própria”, o carro “próprio” e outros luxos que o cidadão pagava com prazer?

Nada era fácil para o Cidadão, mas tudo valia a pena, o momento atual havia sido construído com muita luta e suor, isso o levava a pensar que os alicerces eram sólidos e inabaláveis. Diante de alguma intempérie todos teriam um teto para se abrigar.

Num dia de ócio, pasmem, até direito a descanso cidadão tinha direito! Mas foi num desses momentos que o noticiário da TV anuncia: “Mais um crime de corrupção no país”. Quanta falta de criatividade, o jornal andava repetindo conteúdo: – “Os cofres públicos haviam sido roubados”. Os bandidos descarados, obedeceram com cinismo a orientação do cartaz que dizia: Sorria, você está sendo filmado!

A crise estava anunciada. – Mas como assim crise? Questionava o Cidadão enquanto degustava um delicioso churrasquinho. E aos poucos o sol que era para todos foi se pondo na vida do Cidadão. Seu salário perdia o valor de compra e os boletos já entravam na fila dos prioritários.

Mas ele era guerreiro, não gostava desse tal de mimimi. A luta seguia. Até que numa manhã nublada o patrão anuncia medidas severas de contenção de gastos; para evitar demissão cortaria benefícios. Ufa, pelo menos ainda estava empregado, pensou ele. A essa altura Cidadão já é mais um inadimplente e precisa replicar os cortes em casa também. Tudo que garantia a qualidade de vida é sacrificado, agora o foco era apenas sobreviver.

A crise era maior do que se imaginava, a margem de lucro do patrão estava muito pequena e por isso, o que antes era feito por dois passaria a ser feito por um. Cidadão perde o emprego!

Ao perder o emprego, em pouco tempo descobre que o carro não era seu, que a casa não era própria e que a saúde emocional e física da família estava comprometida.

E assim a condenação do Cidadão era aplicada, nome sujo e mal vestido, perdia direitos básicos, ao celular não falava mais, pois não havia crédito, seu ir e vir era limitado a resistência de suas próprias pernas, não havia nem o dinheiro da passagem. O carro popular e a pequena casa foram devolvidas ao banco, vendeu tudo que podia vender para alimentar a família e agora vivia de favores, morando de aluguel e chorando escondido.

Quanto aos corruptos, esses também não escaparam, foram condenados, cumprir prisão domiciliar, viajar para fora do país só com autorização do juiz, champanhe em dias de festas e exibicionismo nas redes sociais. Mas como dizem alguns, a vida é assim mesmo, quem corre sempre alcança!

Publicado na edição 1171 – 11/07/2019

A condenação do cidadão

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