Não sou muito de jogar na loteria, mas dia desses estava próximo a uma lotérica e decidi testar minha sorte. Embora fosse a primeira semana do mês e houvesse muita gente na lotérica, resolvi encarar a fila. De repente, enquanto esperava minha vez de ser atendido, se aproxima um conhecido. Cumprimentos feitos, veio a pergunta: “e a política?” Respondi com o tradicional, “ah, agora vai começar a esquentar” sem muito entusiasmo, até porque eu estava pensando em números para jogar bem naquele momento.
Meu interlocutor, no entanto, insistiu em puxar conversa. Perguntou o que eu achava dessa candidatura à reeleição do agora prefeito Rui Sérgio Alves de Souza. Devolvi a pergunta com outra: o que você acha? Ele não pensou duas vezes, me disse que Rui tem poucas chances, que não se preparou para a campanha, que o atual prefeito estava meio mal das pernas, queimado politicamente em razão de sua temporada filiado ao PT e algumas coisas mais.
Aquele discurso não me pareceu novo, embora não o tivesse ouvido recentemente. Foi então que recordei onde já o tinha ouvido. Foi aqui em Araucária mesmo e com o mesmo personagem: Rui. Pisquei rapidamente os olhos e minha mente foi à legislatura 2005-2008. O agora prefeito era suplente de vereador, mas acabou assumindo o cargo em razão da ida do titular, Josué Kersten para o comando da Secretaria de Saúde. Quem acompanha política sabe que vida de suplente não é fácil, já que normalmente ele assume o cargo e seus ônus, mas bem pouco de seu bônus. E foi assim com Rui. Quantas vezes o ouvi solicitar uma bendita lista de beneficiários do Bolsa Atleta ao então secretário de Esporte, Wilson Roberto Mota. Lista, aliás, que nunca vinha. Os outros vereadores pareciam não respeitar Rui. Tudo porque ele era suplente. Passou o mandato e chegou à campanha de 2008, Josué voltou à Câmara para disputar o pleito e Rui perdeu seu cargo justamente no período eleitoral. Pouca gente acreditava que ele poderia se reeleger. Talvez conseguisse ficar novamente como suplente e olhe lá. Porém, fechadas as urnas naquele mês de outubro, o então suplente surpreendeu nas urnas. Não só se elegeu, como ainda fez mais votos do que Betão e Josué. Este último, aliás, sequer se reelegeu para a legislatura 2009-2012.
Início de 2009, nova legislatura começando e, novamente, Rui era tido apenas como mais um vereador. Até porque, àquela altura, ele estava filiado ao PT num governo do PSDB, vez que Albanor Zezé havia ganhado aquela eleição. Isso, porém, não impediu que o petista, mesmo sendo considerado um azarão, tenha sido eleito para presidir a Câmara no biênio 2009-2010. Ninguém esperava isso. Veio 2010 e Rui começou a dizer que seria candidato a deputado estadual. Alguns integrantes do governo Zezé consideravam aquilo uma afronta, afinal o vice-prefeito à época, Isac Fialla (PSDB), seria o candidato da máquina. O que se ouvia era que Rui passaria vergonha nas urnas diante do poderio de Isac. Porém, aberta as urnas, o tucano fez 23 mil votos e o agora prefeito 19 mil. Nenhum dos dois se elegeu, mas todos consideraram a votação obtida por Rui algo inacreditável.
Veio então a eleição de 2012, Rui colocou seu nome para ocupar a vaga de vice na chapa de Olizandro. Àquela altura o PT era desejado por todos, mas o agora prefeito não era dos favoritos nem dentro do próprio diretório municipal. Dizem que nem o próprio Olizandro o tinha como uma das suas primeiras opções. De novo, no entanto, Rui conseguiu se viabilizar e ficar com a vaga de vice na coligação vitoriosa daquele pleito.
Ao longo desse mandato como vice, Rui também teve muitas quedas de cavalo. Por exemplo, o deputado federal André Vargas (PT), que outrora fora assíduo parceiro político do agora prefeito, foi preso, perdeu o mandato e hoje cumpre pena por corrupção em regime fechado. Porém, nunca houve nada que ligasse Rui aos negócios ilícitos de André, o que fez com que ele sobrevivesse sem nenhum arranhão à queda de seu antigo todo poderoso secretário geral do PT.
Mais recentemente, inclusive, Rui resolveu deixar o enroscado PT e foi para o PHS. Sabe-se lá porque, entretanto, o PHS foi lhe tomado e, às vésperas do encerramento do prazo de filiação para os interessados em disputar as eleições de 2016, ele corria o risco de não estar filiado a nenhuma legenda e sequer poder ser candidato neste ano. No apagar das luzes ele se alojou no politicamente insignificante PTC, tudo para poder ser candidato a vereador. Muitos voltaram a dizer que Rui estava acabado. Mas não é que quis o destino que o quadro de saúde de Olizandro se agravasse no último mês e o vice tivesse que assumir o comando da Prefeitura? Com isso, Rui virou – assim do nada – prefeito e, com o cargo, a possibilidade de disputar a reeleição.
Bem, é nesse momento daquele piscar de olhos lá do terceiro parágrafo que ouço uma voz dizendo “próximo”. Abro os olhos, olho para meu interlocutor, digo “conversamos outra hora”, vou ao guichê e a moça da lotérica me pergunta: “aposta?” e eu, ainda perdido em meus pensamentos, respondo “Ru…, digo, um jogo da Mega-Sena, por favor”.
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