As imagens de casas sendo derrubadas por máquinas da Prefeitura numa área de ocupação irregular na região do bairro Capela Velha, às margens da Avenida Avestruz, correram Araucária esta semana. De igual forma, causou repercussão o que se sucedeu à essa desocupação: rua bloqueada, invasores do terreno revoltados e a necessidade de intervenção dos órgãos de segurança para conter os ânimos.
Os olhos não treinados de quem viu aquelas cenas pode ter ficado chocado com o disparo de meia dúzia de balas de borracha ou mesmo com algumas pessoas bradando palavras de ordem e bloqueando a Avenida Avestruz, pondo fogo em galhos e restos de materiais utilizados para construção de barracos. Afinal, concordando ou não com a ocupação da área, havia ali várias mulheres, crianças e idosos. Pessoas simples que aparentemente só recorreram à invasão por absoluta falta de alternativa.
Infelizmente, no entanto, nem sempre o que os olhos veem e o coração sente deve nortear o modo como a cabeça deve agir. Não é possível mais aceitar que o grande Capela Velha siga sendo ocupado irregularmente por milhares de famílias, a grande maioria sequer originária de Araucária, sem que haja uma ação enérgica do poder público. Os moradores “legais” daquela região, que durante décadas trabalharam de sol a sol para pagar seus terrenos não aceitam isso. E, da mesma forma, o próprio Município não tem condições de suportar os custos sociais derivados dessa ocupação desenfreada.
Há que se ressaltar ainda que, essa energia, precisa ser ainda mais firme quando a ocupação se dá em áreas sabidamente inabitáveis como aquela desocupada no início desta semana. Áreas que jamais irão oferecer condições dignas de vida para quem ali residisse. Fechar os olhos para o problema e permitir que essa ocupação desenfreada siga acontecendo é o mesmo que alimentar um monstro que logo, logo irá nos devorar. Logo, é perfeita e digna de elogios a ação dos órgãos públicos naquele caso específico.
Obviamente, é preciso destacar, a solução dada para aquela área às margens da Avenida Avestruz não pode em hipótese alguma ser replicada para outras ocupações existentes naquela região. Não há como, por exemplo, desocupar o Israelense, a Portelinha e outras comunidades desdobradas do jardim Arvoredo, que esteve na gênese das invasões de terra em Araucária.
A constatação, porém, de que essas ocupações estão consolidadas e que o poder público precisa é encontrar formas de regularizá-las, urbanizá-las não pode ser entendida por outras famílias e mesmo “grileiros modernos de terra” como uma autorização tácita para que outros terrenos do Capela Velha e cercanias passem pelo mesmo processo. É preciso coibir firmemente essas invasões de terra, sejam elas em áreas públicas e/ou privadas. E, quando se tratar deste último caso, exigir de seus proprietários que garanta a segurança e destinação adequada de seu imóvel, recorrendo a instrumentos previstos em lei como IPTU progressivo e similares para que isso seja feito. Do contrário, corre-se o risco de que, no futuro, tenhamos que resolver situações como a da já mencionada Israelense e adjacências: imensos imóveis de particulares em área urbana, que por estarem desocupados e desprotegidos foram um convite para que uma ou outra família o ocupasse, dando início ao que se sabe hoje é uma das maiores ocupações do Estado Paraná.
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