Escassez de materiais e competitividade geram queda de 50% na coleta seletiva

Escassez de materiais afeta diretamente a renda dos trabalhadores da Associação Reciclar. Foto: Carlos Poly
Facebook
LinkedIn
WhatsApp
Telegram
Email
Escassez de materiais e competitividade geram queda de 50% na coleta seletiva
Escassez de materiais afeta diretamente a renda dos trabalhadores da Associação Reciclar. Foto: Carlos Poly

Apesar da crise econômica e da pandemia, o preço dos recicláveis aumentou de forma significativa em 2021. O que poderia representar uma melhora na renda de quem trabalha com a reciclagem, é na verdade um reflexo da escassez de materiais e aumento da competitividade nas ruas. Em Araucária, as taxas de coleta seletiva nos meses de abril e maio caíram cerca de 50% neste ano, comparando com o mesmo período no ano passado. De aproximadamente 100 toneladas, agora o número de materiais recicláveis gira em torno de 40 a 60 toneladas.

No mesmo período, a coleta de lixo orgânico se manteve em torno 2.400 toneladas, em média | Dados: SMMA (2021)

Disputa nas ruas

Diretor de limpeza pública da Secretaria Municipal do Meio Ambiente (SMMA), Jean Cordeiro acredita que a falta de materiais resulta do aumento de catadores nas ruas e de coletas por caminhões de reciclagem ilegais. Outras causas — como diminuição da reciclagem e descarte irregular por parte da população — são pouco prováveis, levando em consideração que a coleta de lixo orgânico se mantém na mesma média.

Segundo Jean, não existe uma estimativa em números, mas há uma percepção de que a competitividade está crescendo nos últimos meses. “O material reciclável está muito valorizado, hoje o preço aumentou em torno de 30%. Isso pode estar conectado a muitos fatores, entre eles a situação econômica do país e as taxas de desemprego, que levam mais pessoas a recorrerem ao trabalho com recicláveis”, explica Jean Cordeiro.

“Diminuiu bastante a quantidade de materiais. Agora, tem muitos catadores e a prefeitura manda o caminhão da coleta seletiva, e isso atrapalha. Existe um preconceito com quem cata reciclagem, mas muitas pessoas dependem desse trabalho. Para nós está sendo bem difícil”, conta Simone Lourenço, catadora de recicláveis e auxiliar de limpeza. Simone trabalha com reciclagem há dois anos, desde que se mudou do interior para Araucária e ficou desempregada. A reciclagem é o principal sustento da família de Simone, que vende os materiais para barracões do município. Com a escassez de recicláveis, vários barracões têm encerrado suas atividades.

Reciclagem também gera renda

Mãe e divorciada, Simone Lourenço depende da reciclagem para pagar o aluguel e a alimentação dos filhos. Antes da pandemia, a catadora conseguia uma renda de aproximadamente 700 reais por mês. Hoje, Simone recebe 500 reais por mês com a venda de recicláveis e precisa de auxílio do governo, o Bolsa-família, para complementar a renda. “Só tenho o suficiente para manter essas necessidades básicas e meus filhos dependem de mim”, descreve.

De acordo com Giane Marisa Borges, presidente da Associação de Catadores de Materiais Recicláveis – Reciclar Araucária, a competitividade e a escassez de materiais afetam diretamente a renda dos trabalhadores. A instituição é a única legalizada no município e, para se tornarem associados, os catadores precisam seguir uma série de requisitos, além de passar por um processo de oficialização. Quando as coletas retornam muitos recicláveis, a associação consegue manter o trabalho de aproximadamente 58 pessoas em seu centro de processamento.

Atualmente, a Reciclar Araucária é formada por uma equipe de 34 pessoas com renda de até 1.200 reais. Giane aponta que o aumento no preço dos materiais recicláveis é a razão pela qual “ainda conseguimos nos manter”. “Nosso trabalho dá destino para todo tipo de material. Conseguimos destinar corretamente tudo que nos é encaminhado, e isso ajuda muito as famílias que dependem desse trabalho. É assim que mantemos o salário de cada um”, afirma.

Coleta em Araucária

Giane Borges ainda reforça a necessidade da população participar da coleta seletiva de Araucária, separando o lixo e colocando nos dias e horários corretos. O cronograma da coleta pode ser conferido no site da Prefeitura (https://araucaria.atende.net/). “Não estamos obrigando as pessoas a reciclar e separar. Mas tirar o que é orgânico do que é reciclável, já ajuda demais o nosso trabalho”, relata.

Texto: Laís Almeida, estagiária sob supervisão de Maurenn Bernardo

Publicado na edição 1268 – 01/07/2021

Compartilhar
PUBLICIDADE